Artigo: A ESCOLA E A CONTEMPORANEIDADE: UTOPIAS E DISTOPIAS DA EDUCAÇÃO (Parte 1) - CINTIA BARRETO

Pensar a escola hoje é estar diante de uma série de distopias que marcam o espaço de aprendizado, como a “evasão escolar”. Comumente, atrela-se a “evasão” a um movimento realizado pelo estudante frente a dificuldades internas e externas, mas é preciso estar atento a outro movimento: a “evasão docente”. A escola contemporânea é atrativa para quem? O que mudar e o que manter num espaço que, muitas vezes, coloca para fora os protagonistas do processo de aprendizagem?

Em primeira análise, é preciso compreender que a Escola deve ser um espaço de interação entre professores, estudantes, direção, coordenação pedagógica, inspetores, merendeiras, faxineiros, comunidade e família. Considerar todos estes atores como componentes do processo de aprendizagem é reconhecer que esta ocorre de forma global e interativa e não restrita às paredes das salas de aula e aos muros da escola. A contemporaneidade traz uma série de questões que potencializam a função dialógica da Educação com o mundo.

O que motiva o estudante a ir à escola todos os dias é o mesmo que motiva o professor? Estudantes e professores têm objetivos em comum? Se considerarmos que os jovens veem a escola como um lugar de desenvolvimento de suas potencialidades, o mesmo acontece com os professores? Muito se fala, atualmente, sobre a importância do protagonismo dos jovens dentro e fora do espaço escolar, mas se esquecem que, se antes a Educação falhou (e vivemos essas consequências) em centrar o processo de aprendizagem no professor, movimento apontado pelo educador Paulo Freire como “Educação Bancária” no qual o professor era o “detentor” do conhecimento e o estudante uma “folha em branco” sobre a qual era despejado todo o conhecimento docente, erra-se também ao centrar o processo de aprendizado tão somente no estudante. Enquanto não compreendermos que aprender é uma relação dialógica e que escola é um espaço de desenvolvimento coletivo, que a autoridade docente não deve ser vista como autoritária e que protagonismo discente não é antagonismo ao docente e aos demais personagens da escola, teremos muitas e novas dificuldades em, de fato, fazer evoluir os estudantes, a própria escola e de contribuir para mudanças significativas na educação contemproânea.

Isso posto, se faz necessário refletir sobre outras relações que impactam o desenvolvimento da Educação e de seus agentes como a relação da escola com a sociedade. Não se pode pensar em Educação sem pensar em política social e sem garantir a todos os agentes do processo de aprendizagem e sem fornecer a eles as condições adequadas que permitam fazer da escola um espaço de trasnformação e desenvolvimento de todas as suas potencialidades. Não se pode falar em Educação sem falar em respeito, não se pode falar em deveres sem considerar os direitos já adquiridos e não respeitados. Falar em Educação é falar em Liberdade, liberdade em todas as suas manifestatções políticas e sociais.

Uma escola saudável, com protagonismo do estudante, requer pensar no protagonismo também de todos os agentes envolvidos no processo. Requer pensar numa gestão democrática e num planejamento participativo que não implica a ausência de lideranças escolares, mas no diálogo entre elas. Para tanto, é preciso agir de forma a escutar, avaliar, as necessidades dos agentes educacionais para o bom funcionamento da escola, a fim de conciliar os trabalhos relacionados à aprendizagem. É preciso considerar as mudanças sociais, mundiais, a fim de promover o diálogo entre a escola, a sociedade e o mundo que a cerca. Novas profissões surgiram e surgem a cada momento, novas questões surgiram e surgem e a escola não pode estar à margem dessas mudanças. Precisa, antes, estar antenada às novas exigências do mercado de trabalho e aos projetos de vida dos estudantes e de todos os personagens que compõem esta história. A escola, repito, é um espaço coletivo e sem compreender o que é coletivo, não se consegue compreender o invidual. Respeitar as invidualidades e fazer caminhar o coletivo é minimizar as distopias e realizar as utopias.

Dessa forma, a Educação Contemporânea precisa ter visão e ações holísticas para transformar vidas. Uma escola que requer o protagonismo dos estudantes precisa ter Educadores que se sintam com autonomia para desenvolverem suas próprias potencialidades, precisa ter profissionais respeitados em suas funções e autoridades, precisa ter afeto, precisa ter escuta para ter falas e práticas de sucesso, precisa ter respeito aos estudantes e a todos os profissionais que trabalham na Educação, precisa resolver as demandas. Para os Educadores poderem mediar o conhecimento é preciso que possam expressar suas competências e habilidades e buscar formação continuada para elas. É preciso que as disciplinas dialoguem entre si, a fim de promoverem práticas interdisciplinares. Ciência sem Ética, Técnica sem Humanidade, Protagonismo sem Respeito, Escola sem Diálogo, Trabalho sem Condições Adequadas são desserviços à Educação Contemporânea. Na parte 2, dissertarei sobre a Educação por Projetos como forma de promover: diálogo, protagonismo, criticidade, criatividade, afeto, respeito, conhecimento, cultura, arte e desenvolvimento de individalidades e coletividades dentro do espaço escolar.

 

Rio de Janeiro, 04 de outubro de 2019.

 

* Cintia Barreto é Doutora em Literatura Brasileira pela UFRJ, Coordenadora de Pós-graduação em Litertura Infantil e Juvenil na UCAM, UCP e Pestalozzi, Educadora, Consultora e Coordenadora de Projetos Educacionais.

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Cintia Barreto